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IKIGAI: Muito mais que um propósito de vida

A busca por um propósito de vida tem se tornado cada vez mais presente na vida de todos, pois já tem algum tempo que estamos questionando a maneira de viver e tentando encontrar um sentido maior para nossa existência. No Japão, nas ilhas Okinawa, uma filosofia chamada ikigai guia o estilo de vida local, lá as pessoas vivem em média 100 anos, com uma ótima qualidade de vida e muito felizes.

Não existe tradução exata para o termo o ikigai, mas se aproxima de “razão para viver” ou “razão pelo qual eu acordo todos os dias pela manhã”; o conceito conecta nossas ações ao sentido maior das nossas vidas, que é particular para cada ser.

Além de uma filosofia de vida, é também uma ferramenta, que auxilia a refletir sobre os nossos desejos, talentos e nosso lugar no mundo.

A proposta da ferramenta é que encontremos nossa vocação, afinal, para uma vida feliz e com realização duradoura é necessário alinhar trabalho + servir ao coletivo + nossos talentos naturais. Entretanto, é um desafio explicar o ikigai através das lentes do mundo ocidental, já que nossos valores são muito diferentes e até conflitantes. Então antes de apresentar a ferramenta, aqui vão cinco passos para sustentar a filosofia na sua vida.

Conheça os cinco passos para sustentar a filosofia na sua vida.

Passo 1: Começar Pequeno

Não importa tanto o que se faz, mas como se faz. Fazer com impecabilidade todas as tarefas, especialmente as cotidianas, é o que guia a uma vida com ikigai. Não tem uma palavra que traduza o conceito Kodawari, mas poderia se dizer que se aproxima de comprometimento misturado com devoção. Está completamente ligado ao estado de “flow”, que nos conecta de um lugar profundo e sutil com a experiência. Aqui já percebemos que a vocação para os japoneses é muito mais do que o trabalho, é uma atitude perante a vida, de fazer e dar sempre o melhor em cada situação, sem precisar de recompensas ou reconhecimento por isso.

Passo 2: Libertar-se

Libertar-se é um requisito para estar no aqui e agora e para cultivar uma vida em ikigai. É liberar nosso sistema de crenças, memórias, experiências prévias e simplesmente se permitir viver cada momento. Está muito ligado à descoberta dos prazeres sensoriais, estimulando que a gente se abra a viver o dia-a-dia sempre de uma maneira diferente, sem nossos pré-julgamentos. Quando aliviamos o peso da individualidade nos abrimos para um universo infinito de prazeres sensoriais e para o poder do agora.

Passo 3: Harmonia e sustentabilidade

Esse pilar traz uma ideia muito importante, de que somos como uma floresta, individual, mas conectados e interdependentes uns dos outros para crescer. Assim, não existe tarefa mais ou menos honrosa para os japoneses, todas são igualmente importantes para o funcionamento saudável do todo. De fato, é um grande desafio integrar esses conceitos em um sistema hierárquico, desigual e competitivo. Mas é exatamente por isso que faz tanto sentido se aproximar do ikigai, ele pode contribuir para uma forma mais sustentável e harmônica de se viver. É um trabalho em pequena escala, com paciência, de forma comum e com um olhar voltado para longe.

Passo 4: A alegria das pequenas coisas

Esse é um conceito também distante da nossa realidade, já que a visão ocidental de sucesso nos coloca em uma busca incessante por ter e ser cada dia mais e melhor. Em contraponto, o ikigai sugere que a finalidade da vida é experienciar o caminho, que na verdade, não existe uma linha de chegada, já que é tudo sobre o momento presente. Portanto, para ter ikigai é preciso ir além dos estereótipos e crenças e ouvir a sua voz interior. Você poderá encontrar seu ikigai mesmo quando o sistema político do seu país estiver um caos, pela perspectiva da filosofia, não há diferença entre vencedores e perdedores. É tudo questão de ser humano.

Passo 5: Estar no aqui e agora

O que não mata, fortalece é muito popular para a filosofia. Viver em presença é estar aberto a toda e qualquer experiência que a vida trouxer, com a consciência que podemos, com ikigai, enfrentar os desafios com leveza e competência. Pelas lentes dessa filosofia,ser feliz é o objetivo da vida, e estar de corpo e alma vivendo o aqui e agora é uma ótima forma de aproveitar a vida ao máximo.

Claro que para se viver em ikigai é necessário uma mudança cultural, já que muito da filosofia confronta com aspectos básicos da nossa sociedade hoje. Contudo, começar a enraizar novos valores dentro de nós é o primeiro passo para uma mudança cultural, nesse sentido, temos muito a aprender com essa forma de entender e de se relacionar com a vida. 

Agora, apresento um dos elementos mais conhecidos da filosofia, a mandala que simboliza o diagrama de vida em ikigai e nos guia na reflexão de como construir esse conceito através do nosso servir. O centro do diagrama é o aspecto comum entre os quatro quesitos: o que se ama fazer, o que se faz bem, o que se precisa, o que seria pago para fazer. O ikigai é esse ponto de convergência, o equilíbrio saudável de pontos essenciais na nossa qualidade de vida e bem-estar e, por isso, nos permite fluir com a vida quando sustentado por sua filosofia.

Para construir o diagrama do ikigai é necessário certo autoconhecimento, observação de si e experimentação. Deixe a autocrítica de lado na hora de preencher a mandala e coloque todas as possibilidades, até mesmo as mais inusitadas. Outra boa dica é buscar se reconectar com as atividades e brincadeiras preferidas da infância.

Às vezes nos desconectamos tanto do que nos dá prazer que fazer esse resgate pode nos ajudar muito nesse processo de encontrar o ikigai.

No centro da mandala, como resultado, têm se a intersecção dos quatro aspectos, que é o próprio ikigai: aquilo que se faz bem, que se ama fazer, que se é pago para fazer e que o mundo precisa. Lembre-se, segundo a filosofia japonesa, não é sobre o fim e a pressa de encontrar essa razão de existir, mas sim sobre a jornada e seu percurso leve, simples e gostoso de viver.

Por fim, vale ressaltar que essa filosofia não visa melhores resultados de vida, não é sobre ter mais dinheiro, ser melhor ou ser reconhecido; é sobre cada um encontrar e ocupar o seu lugar no mundo, exercendo uma função que faça bem para si e para o coletivo.

Fonte: Livro Ikigai – Os cinco passos para encontrar seu propósito de vida e ser mais feliz. Ken Mogi

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